domingo, 15 de novembro de 2009

Peder Mork Monsted

Na ribeira deste rio 
Ou na ribeira daquele 
Passam meus dias a fio. 
Nada me impede, me impele, 
Me dá calor ou dá frio.

Vou vendo o que o rio faz 
Quando o rio não faz nada. 
Vejo os rastros que ele traz, 
Numa sequência arrastada, 
Do que ficou para trás.

Vou vendo e vou meditando, 
Não bem no rio que passa 
Mas só no que estou pensando, 
Porque o bem dele é que faça 
Eu não ver que vai passando.

Vou na ribeira do rio 
Que está aqui ou ali, 
E do seu curso me fio, 
Porque, se o vi ou não vi. 
Ele passa e eu confio.


Fernando Pessoa