Carl Holsøe. |
O homem é um ser que fala. A palavra se encontra no limiar do universo humano, pois é ela que caracteriza fundamentalmente o homem e o distingue do animal. Portanto, se o homem não tem oportunidade de desenvolver e enriquecer a linguagem, torna-se incapaz não só de compreender o mundo que o cerca, mas também de agir sobre ele.
Na literatura, por exemplo, é belo (e triste) o exemplo que Graciliano Ramos nos dá com Fabiano, personagem principal de Vidas Secas. A pobreza do seu vocabulário prejudica a tomada de consciência da exploração a que é submetido, e a intuição que tem de sua situação não é suficiente para ajudá-lo a reagir de outro modo.
Outro exemplo é o que George Orwell apresenta no seu livro 1984, onde, num mundo do futuro dominado pelo poder totalitário, uma das tentativas de esmagamento da oposição crítica consistia na simplificação do vocabulário realizada pela "Novilíngua". Toda gama de sinônimos era reduzida cada vez mais: pobreza no falar, pobreza no pensar, impotência no agir.
Se a palavra, que distingue o homem de todos os seres vivos, se encontra enfraquecida na sua possibilidade de expressão, é o próprio homem que se desumaniza.