Sim, amá-lo é o que deveriam quando estivessem sob o fascínio do seu cheiro, não apenas aceitá-lo como igual, mas amá-lo até a loucura, até o sacrifício pessoal; deveriam tremer de encanto, uivar e gritar, chorar de prazer, sem saber por que, cair de joelhos - isto é que deveriam fazer como sob o incenso frio de deus, só por chegarem a cheirá-lo! Queria ser o Deus onipotente do aroma, como o fora em suas fantasias, mas agora no mundo real e sobre pessoas reais. E ele sabia que isso estava em seu poder. Pois as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração. Como esta, ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver.
E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio.
Patrick Suskind, O Perfume