sexta-feira, 14 de agosto de 2009
“O homem pôs um embrulho que carregava e seu cajado em um banco. Sentou-se. Contemplava Cosette com atenção. Era uma menina feia. Magra. As mãos cheias de frieiras. Como sempre estava com frio, tinha o hábito de apertar os joelhos um contra o outro. Vestia-se com farrapos. O corpo estava cheio de manchas, resultado das pancadas que levava. Mais que tudo, transpirava medo. No fundo de seus olhos, antes belos, só havia terror.”
“Não dissemos ainda, mas era noite de Natal. De madrugada, o viajante levantou-se. Foi até a lareira. Lá estavam os sapatos de Éponine e Azelma, deixados à espera de um presente. A mãe já tinha colocado uma moeda reluzente em cada um. No canto mais escuro, havia um pequeno tamanco de madeira. Cosette também não perdera a esperança e deixara seu tamanquinho na lareira.
O viajante colocou uma moeda de ouro e voltou para seu quarto. Pela primeira vez na vida, Cosette teria Natal.”
Victor Hugo, Os Miseráveis