terça-feira, 28 de julho de 2009
278 - O Pensamento da Morte
Sinto uma felicidade melancólica em viver no meio dessa confusão de ruelas, de necessidades e de vozes: quantos prazeres, impaciências, desejos, quanta sede de vida e que embriaguez vêm à luz aqui a cada instante! E logo, contudo, o silêncio cairá sobre todos esses homens barulhentos, vivos e felizes por viver! Atrás de cada se desenha sua sombra, obscuro companheiro de caminhada! Ocorre sempre como no último momento antes da partida de umm navio de emigrantes: tem-se mais coisas a dizer que nunca, o oceano e seu morno silêncio esperam impacientemente atrás de todo esse barulho – tão ávidos, tão seguros de sua presa! E todos, todos imaginam que o passado não é nada, ou tão pouca coisa e que o futuro próximo é tudo: disso decorrem essa pressa, esses gritos, essa necessidade de se ensurdecer e de extravasar! Cada um deles quer ser o primeiro nesse futuro – e, contudo, a morte, o silêncio são as únicas certezas que todos têm nesse futuro! Como é estranho que essa única certerza essa única comunhão seja quase impotente em agir sobre os homens e que eles estejam tão longe de sentir essa fraternidade da morte! Sinto-me feliz em constatar que os homens se recusam absolutamente a pensar da idéia da morte e gostaria muito de contribuir para lher tornar a idéia da vida ainda mais cem vezes mais digna de ser pensada.
Friedrich Nietzsche ― A Gaia Ciência