sábado, 6 de junho de 2009

Felicidade

Oksana Kravchenko

“Eu poderia, por exemplo mencionar uma série de versos e poemas que amei décadas a fio e ainda amo, não pelo sentido, sabedoria ou conteúdo em experiencia, bondade, grandeza, mas unicamente por uma determinada rima, um determinado desvio rítmico do esquema convencional, a escolha de vogais preferidas, que o escritor pode ter feito de modo tão consciente quanto o leitor que as exercita.

Da construção e ritmo do texto de Goethe ou Brentano, de Lessing ou E. Th. A. Hoffmann, pode-se deduzir muito mais sobre as caracteristicas, a tendencia física e espiritual do escritor, do que daquilo que esse trecho de prosa nos diz.Há frases que podem estar no texto de vários escritores, e outras que só seriam possíveis em um único desses músicos da linguagem.Para nós as palavras são a mesma coisa que as cores da paleta do pintor.Existem incontáveis delas, e surgem sempre novas, mas as boas palavras, as verdadeiras, são menos numerosas, e em setenta anos de vida não vi surgir nenhuma nova.

Entre as palavras existem para cada falante as prediletas e as estranhas, preferidas e evitadas, cotidianas – que se usam mil vezes sem temer o desgaste – e outras - solenes – que por mais que as amemos, só pronunciamos ou escrevemos com cuidado e reflexão, como objetos raros: fazendo as escolhas que correspondem a essa sua solenidade.

Entre elas está para mim a palavra felicidade.

É uma dessas que sempre amei e escutei com prazer.

Por mais que se discuta e argumente sobre seu significado, seja como for, ela significa algo belo, bom e desejável.”


Hermann Hessé