imagem: haleh bryan |
Quanto mais vivo, mais me convenço de que viver é a possibilidade de se aprender a compreender e a enfrentar conflito. Vida é conflito, e conflito não quer dizer briga, como se diz. Conflito é luta consigo mesmo.
O que tem solução não é conflito: é problema, impasse. O conflito é um complexo de conteúdos, que perduram além e adiante da solução, e que aumentam tanto quando há, como quando não há solução.
O conflito é, pois, um enigma existencial! Nunca tem resposta total, por isso vida é drama.
Drama é se viver na impossibilidade de solucionar a maioria dos conflitos que nos cercam. O mito é o material interno do conflito, a lavrar-lhe no íntimo, impossível de apreensão ou compreensão plenas.
Desafiado pelo conflito, o ser humano empreende a tentativa de solução, pois foi dotado de uma mente que também é lógica e racional, e, entre as suas imperfeições, possui a de não conseguir conviver com a dúvida.
O homem é um ser que não consegue viver com o que lhe é matéria-prima: a dúvida. Porém sem ela não vive, vegeta.
Não há, pois, solução - a não ser parcial - para os conflitos. A vida é a sucessão deles e quanto mais o ser consiga a contrição e a auto-reflexão, iluminar-se-á em cada fase e se enriquecerá de dúvida, de impasse e de suplício, transformando sua existência numa luta rica.
Compreender a dificuldade e a impossibilidade de plenitude em qualquer resposta é descobrir o caminho da existência madura, forte, porque capaz de enfrentar a certeza de que vida é drama e suplício (não no sentido de sofrimento ou martírio, mas de trabalho existencial e tarefa de conviver com o conflito).
Fazê-lo (ao conflito) parte do ser é única maneira de minimizar seus efeitos e enriquecer-se com suas verdades contraditórias.
É da capacidade de enfrentar todas as dores da verdade que fazemos a "corrente sem elos" de nosso amadurecimento, o que não quer dizer que solucionamos nossos conflitos e, sim, que temos a coragem de neles mergulhar para melhorarmos, doendo. ao mesmo tempo em que descobrindo as felicidades possíveis.
Artur da Távola