para Olga Savary
o violino canta
sua fina alma
de arco
de corda
de crina alva
na tez de água
de Mariana
uma nota corta
e a outra encanta
...tez rezada
tez rosada
Mariana...
Mariana e seus agudos
quebram o cristal do descaso
e perfumam o cavalo mudo
no pasto vermelho qual tapete alado.
... seu corpo branco com adágios
planeja a nova seda...
Mariana entreabre sua boca de acordes
e tempesteia alguma neve
porque o navio se foi
lenço branco
clássica saudade
um acorde errado aumenta o encanto
e Mariana toca
revira os olhos
neblina
frio calor
toca o violino Mariana toca
violino sai da gruta que jorra
frêmito de pernas arrepiadas
quase em fuga
bico do seio acordado
porta do inferno úmida
língua que pede masculino sal
arco que esfrega corda em obsceno movimento
o acorde que geme
que rebenta em gozo
na pele de Mariana que sorri com languidez
enquanto a saúde cai
como folha antipática de outono
Mariana de chão folhado e morto
olha a foto do amor na parede
desiste de um mundo
e como guerreira
pega um difícil atalho
acende a lareira
Fuga de Bach
Antonio Calloni