sexta-feira, 24 de abril de 2009

Final


Pois bem, adeus. Nada esqueceu?... Tem tudo já? Não temos nada mais a dizer face a face. Pode ir... Mas, não! Espere um pouco! Como está chovendo!... Espere que isso passe. Agasalhe-se bem! Está frio lá fora. Você devia por um “manteau” mais pesado. Já tem tudo o que é seu? Nada me resta agora? As suas cartas? O retrato?... Já que a gente se vai separar, olhe-me ainda um instante... Mas sem chorar: seria idiota. Como é horrível agora a lembrança remota Do que nós fomos numa vida antiga e linda! Nossas vidas se confundiram totalmente... E agora cada qual retoma o seu caminho! nós vamos partir, cada qual mais sozinho, Recomeçar, vagar por aí... Certamente, Sofreremos também... Mas há de vir, depois, O esquecimento, a única cousa que perdoa. E há de haver eu haver você; sermos dois; Sermos isto: uma pessoa e outra pessoa. Veja! Você já vai entrar no meu passado! Havemos de nos ver na rua, casualmente... Eu hei de olhar e de ir, sem ter atravessado... Você irá com vestidos novos, diferentes... E viveremos nossas vidas paralelas... E amigos contarão a você minha história... E eu direi de você, que foi a minha glória, A minha força e a minha fé: “Como vai ela?” O nosso amor... era esta cousa sem valor!... No entanto, que loucura a dos primeiros dias! Lembra-se bem? Que apoteose, que magia!... Se nos amávamos!... E era isto o nosso amor! Mesmo nós, até nós então, quando dizemos “eu te amo!”, o que é que vale o que estamos dizendo?... É humilhante, meu Deus!... Somos todos os mesmos? Iguais aos outros, nós?... Mas, como está chovendo! Você não sai com um tempo assim... Fique comigo! Fique! Vamos viver – não sei... – mais conformados... Os nossos corações, embora bem mudados, Se reforçam talvez à luzes do sonho antigo... Vamos tentar. Ser bons, de novo. Que remédio! Podem falar: a gente tem seus hábitos... Então? Não vá! Fique! E retome a meu lado o seu tédio, Eu retomo a seu lado a minha solidão.


Paul Geraldy