quarta-feira, 25 de março de 2009

Corrado Giaquinto

Esse Deus do Antigo e Novo Testamento é, antes de tudo, uma figura extraordinária, mas não o que realmente deveria ser. Representa o bom, o nobre, o paternal, o belo e também o elevado e o sentimental… está bem! Mas o mundo se compõe também de outras coisas. E tudo o que sobra é atribuído ao Diabo; toda essa parte do mundo, toda essa outra metade é encobertada e silenciada. Glorifica-se a Deus como Pai de toda a vida, ao mesmo tempo que se oculta e se silencia a vida sexual, fonte e substrato da própria vida, declarando-a pecado e obra do Demônio. Não faço a menor objeção a que se adore esse Deus Jeová. Mas creio que devemos adorar e santificar o mundo inteiro em sua plenitude total e não apenas essa metade oficial, artificialmente dissociada. Portanto, ao lado do culto de Deus devíamos celebrar o culto ao Demônio. Isto seria o certo. Ou mesmo criar um deus que interagisse em si também o demônio e diante do qual não tivéssemos que cerrar os olhos para não ver as coisas mais naturais do mundo.

Hermann Hesse, in Demian.