quarta-feira, 18 de março de 2009

O Desejo de Sofrer


Quando penso no desejo de fazer alguma coisa que agite e estimule incessantemente, milhões de jovens europeus, os quais não podem suportar o tédio nem a si próprios, dou-me conta de que deve haver neles um desejo de sofrer, seja como for, a fim de extrair deste sofrimento uma razão provável para agir, para fazer grandes coisas. É preciso sofrimento! Daí o clamor dos homens políticos, daí a razão das inúmeras "crises" falsas, fabricadas, exageradas, de todas as categorias possíveis, e o cego ardor que se põe em creditar nelas. Essa juventude exige que seja de fora que lhe venha ou lhe apareça: não a felicidade, mas a infelicidade; e a sua imaginação ocupa-se já em lhe dar antecipadamente as proporções de um monstro, a fim de poder lutar em seguida com um monstro. Se estes sedentos de sofrimentos sentissem em si força bastante de interiormente fazer bem a si mesmos, para fazerem alguma coisa a si próprios, saberiam também criar interiormente uma miséria altamente pessoal. Suas invenções poderiam então ser mais refinadas, e suas sensações trazer consigo o som da boa música; ao passo que agora, enchem o mundo com o seu grito de agonia; e muitas vezes, por consequência, do sentimento de agonia! Não sabem fazer nada de si próprios... é em função disto que rabiscam na parede a infelicidade dos outros! E de mais outros até o infinito!... Peço-vos perdão, meus amigos: tive a audácia de rabiscar a minha felicidade na parede.



"Depois de sentir-me cansado em procurar
Aprendi a encontrar.
Depois de um vento ter-me feito resistência
Navego com todos os ventos"


Friedrich Nietzsche