domingo, 22 de março de 2009

Egoísmo

Dai Ho

Não compreendo que tragas um passado,
tu devias esperar-me
devias adivinhar que eu chegaria em tua vida...

Não devias trazer na beleza tristonha
dos teus olhos castanhos
vultos estranhos;
nem nas tuas mãos, inquietas como folhagens
invisíveis tatuagens
como rastros de carícias que passaram;
nem devias trazer nos teus lábios vermelhos
essa umidade das flores
que já desabrocharam...

Queria que as tuas mãos fôssem folhas em branco
à espera da minha inspiração;
que os teus olhos fôssem ingênuos como os das crianças
ingênuos como a expressão da tua face;
e a tua boca, - uma fruta de vez
que o pássaro do desejo respeitasse...

Eu queria que a tua alma, numa perpétua festa,
fosse irmã daquela fonte muito clara, muito límpida,
que mora na floresta...

Não compreendo que tragas um passado
que te lembres de coisas que não sei
nem que tragas vestígios de outro amor
em teu olhar,
- não te perdôo nunca o não teres adivinhado
que nasceste afinal só para seres minha
e que eu havia de te encontrar...

E eu que sou teu presente e serei teu futuro
sinto-me pradoxalmente amargurado,
com este egoísmo pueril... e este ciúme doentio
do teu passado...


J.G de Araújo Jorge