quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Amizade Estelar
Éramos amigos e agora somos estranhos um ao outro. Mas não importa que assim o seja: não procuremos escondê-lo ou calá-lo como se isso nos desse razão para nos envergonhar. Somos dois navios cada um dos quais com o seu objetivo e a sua rota particular; podemos cruzar-nos,talvez, e celebrar juntos uma festa, como já o fizemos - e esses corajosos barcos estavam lá tão tranquilos, debaixo do mesmo sol, no mesmo porto, que se teria acreditado que tinham alcançado o objetivo, o mesmo destino. Mas a onipotência das nosss tarefas separou-nos em seguida, empurrados para mares diferentes, debaixo de outros sóis - e talvez nunca mais nos voltemos a ver: mares diferentes, sóis diferentes nos mudaram! Era preciso que nos tornássemos estranhos um ao outro: era a lei que pesava entre nós; é exatamente por isso que nos devemos mais respeito. Para que a idéia da nossa antiga amizade torne-se mais sagrada! Há provavelmente uma formidável trajetória, uma pista invisível, uma órbita estelar, sobre a qual os nossos caminhos e os nossos objetivos diferentes estão inscritos como pequenas etapas; elevemo-nos até este pensamento. Porém, a nossa vida é demasiado curta e a nossa vista demasiado fraca para que possamos ser mais que amigos, no sentido em que permite esta sublime possibilidade ... Acreditemos, então, na nossa amizade estelar, mesmo se tivermos de ser inimigos na terra.
Friedrich Nietzsche