sábado, 10 de janeiro de 2009



Gosto de ver casulos de borboletas. Lagartas feias que adormeceram, esperando a mágica metamorfose. De fora olhamos e tudo parece imóvel e morto. Lá dentro, entretanto, longe dos olhos e invisível, a vida amadurece vagarosamente.
Chegará o momento em que ela será grande demais para o invólucro que a contém. E ele se romperá. Não lhe restará outra alternativa, e a borboleta voará livre, deixando sua antiga prisão... Voar livre, liberdade."(,,,)
Somos como as borboletas: a liberdade não é um início, mas o ponto final de um longo processo de gestação. Não é isso que acontece conosco? Quem será o tolo que pensará que a criança é gerada na hora do parto? A vida começou, em silêncio, em momento distante do passado. O nascimento é apenas o vir à luz, o descobrimento, a revelação daquilo que havia sido plantado e cresceu.
Não haverá parto se a semente não for plantada, muito tempo antes...
Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses...

Rubem Alves. A reverência pela vida: a sedução de Gandhi. Campinas: Papirus, 2006. p. 83