Soltei meu grito crioulo sem medo
pra você saber:
Faço questão de ser negra nessa cidade descolorida,
doa a quem doer.
Faço questão de empinar meu cabelo cheio de poder.
Encresparei sempre,
em meio a esta noite embriagada de trejeitos brancos e fúteis.
Escrevi aquele conto negro bem sóbria,
para você perceber de uma vez por todas
que entre a minha pele e o papel que embrulha os seus cadernos,
não há comparação parda cabível,
há um oceano,
o mesmo mar cemitério que abriga os meus
antepassados assassinados,
por essa mesma escravidão que ainda nos oprime.
Escrevi
Escrevo
Escreverei
Com letras garrafais vermelho-vivo,
pra você lembrar que jorrou muito sangue.
Cristiane Sobral
(Poema extraído da obra O NEGRO EM VERSOS)