sábado, 23 de dezembro de 2023

 


Noites sem sexo são perfeitas, também: janelas entreabertas,

sombras que passam na rua através das horas, relâmpagos

que não chegam a iluminar as paredes do quarto. 


Românticos 

que se encontram depois de viver vidas paralelas, cansados – mas enlaçados antes que chegue a hora de partir, sem saberem se amanhã há outro sono igual, ou uma escolha para fazer.

Os dois sabem que são doidos, estendem os dedos na escuridão entre as luas. Os dois sabem que mais adiante podem arder de repente no meio do Verão, consumidos pelos segredos e pela indiferença.

Noites sem sexo são perfeitas, também;

e raras, e condenadas e incompletas. 


Nunca estamos preparados, diz um. Nunca estamos, repete o outro, quando a primeira borboleta sossega depois de um beijo em dívida.


Francisco José Viegas