domingo, 28 de fevereiro de 2010

Gosto quando me falas de ti...


Gosto quando falas de ti...e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens, cenário de meus desejos tranqüilos.

Gosto quando me falas de ti... e então percebo
que antes mesmo de chegar, me adivinhavas,
que ninguém te tocou, senão como o vento
que não deixa vestígios, e se vai
desfeito em carícias vãs...

Gosto quando me falas de ti... quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra, e eu só, te encontro
e te reencontro em teus lábios, apenas pintados,
maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.

Gosto quando me falas de ti... e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas tua alma, sem dobras, como um lençol
distendido,
e descortino teu destino, como um caminho certo, cuja
primeira curva
foi o nosso encontro.

Gosto quando me falas de ti ... porque percebo que te desnudas
como uma criança, sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrolava inútil como um novelo
que nos cai da mão...


J.G.de Araújo Jorge
In Quatro Damas

Todo o amor que nos prendera


Todo o amor que nos
prendera
como se fora de cera
se quebrava e desfazia
ai funesta primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia
E condenaram-me a tanto
viver comigo meu pranto
viver, viver e sem ti
vivendo sem no entanto
eu me esquecer desse encanto
que nesse dia perdi
Pão duro da solidão
é somente o que nos dão
o que nos dão a comer
que importa que o coração
diga que sim ou que não
se continua a viver
Todo o amor que nos
prendera
se quebrara e desfizera
em pavor se convertia
ninguém fale em primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia.

David Mourão-Ferreira

Apaixonar-se sozinha



Apaixonar-se sozinha é apaixonar-se pelo silêncio.
Um silêncio com fumos e espelhos.
O amor, se é alguma coisa, é dos que se olham.




Alejandra Pizarnik

Horário do fim

Alfred Stevens


morre-se nada
quando chega a vez
é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos
morre-se tudo
quando não é o justo momento
e não é nunca
esse momento



Mia Couto
Claude Monet (1887), La Barque



A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.
Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Cada minuto é apenas um momento musical

By Jyhrong Pan, from Taiwan


Cada minuto é apenas um momento musical, sem memória.
E a saudade não vem de longe, é como uma cor outonal na paisagem
e muda como um poente...Não há futuro.
Tudo é paisagem para os nossos olhos calmos e líricos.
Sentimos a intimidade das coisas impossíveis.

Cristovam Pavia

As duas faces

Carolus Duran 


Quando te aperto contra mim,
quando te beijo,
percebo que este amor é assim
como uma mistura
de ternura
e desejo,
que não tem fim...

Às vezes, tenho vontade de tomar-te entre as mãos
com a humildade e a pureza de um crente
a desfiar um terço,
tenho vontade de te embalar docemente
com esse cuidado de alguém que embalança
num berço ,
uma criança...

E, logo após, ímpetos de te amar,
de te querer e beijar
com volúpias de fogo
e carícias de chama,
como desesperadamente a gente quer
e beija
uma mulher
que se ama,
e se deseja...

Mistura
de ternura e desejo,
de mansa ternura
e desejo violento,
mistura
de morno carinho
e voluptuoso calor
- à vezes te quero como uma criança...
- outras vezes, como um louco, um doente
de amor!

JG de Araújo Jorge
Christer Karlstad.

A princípio fazia-me sofrer muito a ideia de parecer ridículo. Não parecê-lo, mas o sê-lo. Eu sempre fui ridículo, e eu já o sabia talvez desde que nasci. Talvez já aos sete anos eu me apercebesse perfeitamente de que era ridículo. Depois fui para a escola, e a seguir para a Universidade, mas… Quanto mais aprendia, mais obrigado me via a reconhecer a minha condição de criatura ridícula. De maneira que todos os meus estudos universitários não tinham outro objetivo senão o demonstrarem-me e explicarem- me a mim próprio, nas minhas meditações, que eu era um ser ridículo. E, na vida, acontecia- me o mesmo com a ciência. Todos os anos aumentava e se fortalecia em mim o conhecimento da minha condição ridícula, em todos os sentidos. Toda a gente se ria de mim. Mas ninguém sabia, nem suspeitava sequer, que, se existia no mundo um homem que soubesse melhor do que todos eles como eu era ridículo, esse homem era eu próprio. E era precisamente isso o que mais me enraivecia: que não soubessem. Mas disso tinha eu a culpa. Fui sempre tão orgulhoso que por nada desse mundo o teria confessado a ninguém. E esse orgulho ia crescendo também em mim com os anos, e se eu me tivesse permitido confessar a alguém, fosse a quem fosse, espontaneamente, que era um homem ridículo, teria imediatamente metido um tiro na cabeça, na tarde do mesmo dia. Oh, quanto me fez sofrer, na minha mocidade, o medo de não poder talvez conter-me e de dizê-lo de repente, eu próprio, aos meus companheiros! Mas, com o andar do tempo, quando me tornei um rapazote e, apesar de continuar reconhecendo cada vez melhor todos os anos essa terrível condição minha, fui-me sentindo cada vez mais tranquilo… Não sei por quê… Precisamente por alguma razão que ainda hoje ignoro. Talvez por, nessa altura, se ter introduzido na minha alma o receio perante determinado conhecimento que humanamente era mais elevado que o meu eu… E que foi a convicção adquirida de que tudo neste mundo é, afinal, uno. 

Fiódor Dostoiévski, in “O Sonho de um Homem Ridículo”

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Colheita (Parte 25)


Christian Schloe - Austrian Surrealist Digital painter 




O pássaro da manhã já está cantando. Quem é que lhe traz as notícias do dia antes que desponte o amanhecer, quando o dragão da noite ainda mantém o céu preso em suas escuras e frias espirais?

Pássaro da manhã, conta-me como foi que o mensageiro do Oriente encontrou o caminho para chegar ao teu sonho, em meio à dupla noite do céu e das folhas?

O mundo não acreditou quando gritaste: "A noite se foi! O sol está chegando!".

Desperta, ó tu que dormes! Descobre tua fronte, esperando a primeira bênção da luz e, cheio de alegre fé, canta junto com o pássaro da manhã.

Rabindranath Tagore

O mais perfeito dos sons humanos

An He 


O mais perfeito dos sons humanos é a palavra.
A poesia é a forma mais perfeita da palavra.


Han Yu

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Metade


drawing by Katrina Francisco

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda, que tristeza.
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas
como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que eu fui, mas a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos apronte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia: a outra metade, a canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é AMOR e a outra metade TAMBÉM!

Oswaldo Montenegro

Seco


Arthur Braginsky8




Você e a seca
Árido, distante
Chuva cai,
eu germino, broto de mim
broto de nós
chão duro, terra seca
com o tempo
você seca de mim
já não germino...
já não broto...
mas você... seco
sempre seco
só seco
inerte
distante de mim...





Edylsia de Novais simas

Devias estar aqui rente aos meus lábios

Galya Bukova



Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum


Eugénio de Andrade

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

 Liliana Marescalchi 

Nem aqui nem ali:em parte alguma.
Não é este ou aquele lugar.
Desço à praia,mergulho as mãos no mar,
mas do mar,nos meus dedos,fica a espuma.

Meu jardim,minha cerca,meu pomar.
Perpassa a Ideia e mói,como verruma.
Falar mas para quê?só por falar?
Já nada quer dizer coisa nenhuma.

Os instintos à solta,como feras,
e eu a pensar em velhas Primaveras,
no antigo sortilégio das palavras.

Agora é tudo igual,prazer e dor,
e a tua sementeira não dá flor,
ó triste solidão que as almas lavras.


Fernanda De Castro


Eu quero apenas amar-te lentamente

 William-Adolphe Bouguereau,

Eu quero apenas amar-te lentamente
Como se todo o tempo fosse nosso
Como se todo o tempo fosse pouco
Como se nem sequer houvesse tempo


Joaquim Pessoa

Até ao fim



Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjectivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe. 

Nuno Júdice


Quero dizer-te uma coisa simples: a tua ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma; mas que não deixa, por isso, de deixar alguns sinais - um peso nos olhos, no lugar da tua imagem, e um vazio nas mãos. Como se as tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto. São estas as formas do amor, podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples também podem ser complicadas, quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade. Porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a realidade aproxima-me de ti, agora que os dias correm mais depressa, e as palavras ficam presas numa refracção de instantes, quando a tua voz me chama de dentro de mim - e me faz responder-te uma coisa simples, como dizer que a tua ausência me dói.

Nuno Júdice

[6] - O livro do desassossego

Halfdan Egedius

Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou. Uma réstia de parte do sol, um campo, um bocado de sossego com um bocado de pão, não me pesar muito o conhecer que existo, e não exigir nada dos outros nem exigirem eles nada de mim. Isto mesmo me foi negado, como quem nega a esmola não por falta de boa alma, mas para não ter que desabotoar o casaco.

Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior. Sinto na minha pessoa uma força religiosa, uma espécie de oração, uma semelhança de clamor. Mas a reação contra mim desce-me da inteligência… Vejo-me no quarto andar alto da Rua dos Douradores, assisto-me com sono; olho, sobre o papel meio escrito, a vida vã sem beleza e o cigarro barato que a expender estendo sobre o mata-borrão velho. Aqui eu, neste quarto andar, a interpelar a vida!, a dizer o que as almas sentem!, a fazer prosa como os gênios e os célebres! Aqui, eu, assim!…


Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
O liro do desassossego

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Madrigal

Harold Slott-Moller (1864-1937 Moonlight


Ainda é possível este amor
Como um regresso ao paraíso?
Aroma apenas de uma flor?
O beijo apenas de um sorriso?
Ainda é possível este amor?
Qual a resposta que preciso?


E nada digo! E nada dizes!
Tudo nos basta num olhar
E que tu, mão, lisa, deslizes
Por sobre a minha, devagar...
Com pouco somos tão felizes
Que é já demais pedir luar!


E é já demais esta poesia
Se há cada vez menos valor
Nas tais palavras que diria
Para dizer-te o som e a cor
De um coração em harmonia
Que só se diz, dizendo: Amor!



António Manuel Couto Viana
Moussin Irjan 


Saber o que és, dizer o teu corpo,
ouvir-te num breve instante,
dizer o que é amor sem o dizer,
tirar de mim um poema que te cante;
e ver passar-te por entre os dedos
o fio de luz que prende os teus olhos,
e vê-lo enrolar-se em segredos
quando a tua voz o apaga e acende;
tocar-te os lábios num fim de verso,
ver-te hesitar entre sorriso e mágoa,
perguntar se o teu rosto tem reverso,
e ter nele uma transparência de água:
é o que vejo em ti no cair de véu
em que me dás a terra que vale o céu.


Nuno Júdice




Procuro num atlas de memória

a geografia do teu corpo, desenhando

os contornos de água, as colinas brancas

do outono, os vales onde os viajantes

se perdem, rios que nascem de um abismo

de fonte. E a sombra de uma nuvem

cobre o segredo do teu mapa,

para que adivinhe os caminhos, e

a viagem se transforme

em descoberta.



 Nuno Júdice
LAURI BLANK 

Que algumas pessoas não acreditem que o homem esteve mesmo na lua, dá até pra entender, mas tem gente que não acredita em amor, e isso é imperdoável. Podemos não acreditar no que nossos olhos vêem, mas não podemos desacreditar no que sentimos. Você já ficou com a boca seca diante de uma pessoa? Já teve receio de ela estar ouvindo as batidas do seu coração? Bem, isso tudo não é prova de amor, apenas de ansiedade. Amor é outra coisa. Amor é quando você acha que a pessoa com quem você se relacionava era egoísta, possessiva e infantilóide e isso não reduz em nada a sua saudade, não impede que a coisa que você mais gostaria neste instante é de estar tocando os cabelos daquela egoísta, possessiva e infantilóide.
Amor é quando você não compreende direito algumas coisas, mesmo tendo o QI mais elevado da turma, mesmo dominando o pensamento de Sócrates, Platão e Nietzche. Perguntas simples ficam sem resposta, como por exemplo: como é que eu, sendo tão boa gente, tão honesto e com um coração tão grande, não consigo fazê-la perceber que ela seria a pessoa mais feliz do mundo ao meu lado?
Amor é quando você passa dias sem ver quem você ama, depois passam-se meses, e aí você conhece outra pessoa e passam-se décadas, e você já nem lembra mais do passado, e um dia qualquer de um ano qualquer você se olha no espelho e pensa: como é que eu consegui enganar a mim mesmo durante todo esse tempo?
Amor é quando você sente que seria capaz de amarrar o cadarço de um tênis com uma única mão ou de fazer a chuva parar só com a força do pensamento caso a pessoa que você ama lhe mandasse um sim deste tamanho.
Amor é quando você sabe tintim por tintim as razões que impedem o seu relacionamento de dar certo, é quando você tem certeza de que seriam muito infelizes juntos, é quando você não tem a menor esperança de um milagre acontecer, e essa sensatez toda não impede de fazê-lo chorar escondido quando ouve uma música careta que lembra os seus 14 anos, quando você acreditava em milagres. Tudo isso pode parecer uma grande dor, mas é uma grande dádiva, porque a existência do amor está toda hora sendo lembrada. Dor é quando a gente está numa relação tão fácil, tão automática, tão prática e funcional que a gente até esquece que também é amor.


Martha Medeiros

Canção grata

Leon Kroll (1884-1974) - Portrait of a seated Woman


Por tudo o que me deste
inquietação cuidado
um pouco de ternura
é certo mas tão pouca
Noites de insónia
Pelas ruas como louca
Obrigada, obrigada

Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão

Que bem que me faz agora
o mal que me fizeste
Mais forte e mais serena
E livre e descuidada
Sem ironia amor obrigada
Obrigada por tudo o que me deste



Florbela Espanca

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Mentir



repousei a cabeça no teu corpo com a calma de quem sabia a verdade daquele momento. nunca precisei mentir a mim mesma.


tu repousaste teu corpo fraco sobre a mentira e disseste como se tudo fosse pouco.


mentir, a tua vida a depender disto. a tua vida sem encantos.


silvia chueire

[3] - O livro do desassossego



Amo, pelas tardes demoradas de verão, o sossego da cidade baixa, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos — tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele. Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida com a dessas ruas. De dia elas são cheias de um bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias de uma falta de bulício que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de noite sou eu. Não há diferença entre mim e as ruas para o lado da Alfândega, salvo elas serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que nada valha, ante o que é a essência das coisas. Há um destino igual, porque é abstrato, para os homens e para as coisas — uma designação igualmente indiferente na álgebra do mistério.

Mas há mais alguma coisa… Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que não está em meu poder alterar. Ah, quantas vezes os meus próprios sonhos se me erguem em coisas, não para me substituírem a realidade, mas para se me confessarem seus pares em eu os não querer, em me surgirem de fora, como o elétrico que dá a volta na curva extrema da rua, ou a voz do apregoador noturno, de não sei que coisa, que se destaca, toada árabe, como um repuxo súbito, da monotonia do entardecer!
Passam casais futuros, passam os pares das costureiras, passam rapazes com pressa de prazer, fumam no seu passeio de sempre os reformados de tudo, a uma ou outra porta reparam em pouco os vadios parados que são donos das lojas. Lentos, fortes e fracos, os recrutas sonambulizam em molhos ora muito ruidosos ora mais que ruidosos. Gente normal surge de vez em quando. Os automóveis ali a esta hora não são muito frequentes; esses são musicais. No meu coração há uma paz de angústia, e o meu sossego é feito de resignação.
Passa tudo isso, e nada de tudo isso me diz nada, tudo é alheio ao meu destino, alheio, até, ao destino próprio — inconsciência, carambas ao despropósito quando o acaso deita pedras, ecos de vozes incógnitas — salada coletiva da vida.


Bernardo Soares (Fernando Pessoa)
O livro do desassossego

Segredo



Não contes do meu 
vestido 
que tiro pela cabeça

nem que corro os 
cortinados 
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o 
anel 
em redor do teu pescoço 
com as minhas longas 
pernas 
e a sombra do meu poço

Não contes do meu 
novelo 
nem da roca de fiar

nem o que faço 
com eles 
a fim de te ouvir gritar


Maria Teresa Horta, in Poesia Completa 

Não me inquieta

Nydia Lozano 


Não me inquieta se o caminho
que me coube
- por secreto desígnio - jamais floresce.
Dentro de mim, sei que existe, oculta,
uma rosa branca.
Incólume rosa.
E branca.



Thiago de Mello
 Serge Marchemikova 

Não adormeças:o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo
das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas
da casa e de tudo aquilo com que sonhes.

Não adormeças já.Diz-me outra vez do rio que palpitava
no coração da aldeia onde nasceste,da roupa que vinha
a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi
de quatro folhas;e das ervas mais úmidas e chãs
com que em casa se cozinhavam perfumes que ainda hoje
te mordem os gestos e as palavras.

O meu corpo gela à míngua dos teus dedos,o sol vai
demorar-se a regressar.Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que,se não adormeceres,
serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sonho
se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.


Maria do Rosário Pedreira, in Poesia reunida

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Brasília,do sonho à realidade.


Enredo: Brilhante ao sol do novo mundo, Brasília do sonho à realidade, a capital da esperança


Sou candango, calango e Beija-Flor!
Traçando o destino ainda criança
A luz da alvorada anuncia
Brasília, capital da esperança
 Dádivas o Criador concedeu
Fez brotar num sonho divinal o mais precioso cristal
Lágrimas, fascinante foi a ira de Tupã
Diz a lenda que o mito Goyás nasceu
O brilho em Jaci vem do olhar
Pra sempre refletindo em suas águas
A força que fluiu desse amor é Paranoá... Paranoá
Oh! Deus Sol em sua devoção
Ergueu-se no Egito fonte de inspiração
Pássaro sagrado voa no infinito azul
Abre as asas bordando o cerrado de norte a sul
Ah! Terra tão rica é o sertão
Rasga o coração da mata desbravador!
Finca a bandeira nesse chão
Pra desabrochar a linda flor
No coração do Brasil, o afã de quem viu um novo amanhã
Revolta, insurreições, coroas e brasões
Batismo num clamor de liberdade
Segue a missão a caravana em jornada
Enfim, a natureza em sua essência revelada
Firmando o desejo de realizar
A flor desabrochou nas mãos de JK
A miscigenação se fez raiz
Com sangue e o suor deste país
Vem ver... A arte do mestre num traço, um poema
Nossa capital, vem ver...
Legião de artistas, caldeirão cultural!
Orgulho, patrimônio mundial
Sou candango, calango e Beija-Flor!
Traçando o destino ainda criança
A luz da alvorada anuncia

Brasília, capital da esperança


domingo, 14 de fevereiro de 2010

A tua voz na Primavera

razumov


Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!



Florbela Espanca

Ilusão

Remy Daza Rojas


Igual a todas
desejou ser única,
contou-me histórias, casos de seus casos,
falou de medos, de loucuras, sustos
e de um futuro que seria nosso.
Como as demais e tantas e diversas
fez mil perguntas sobre o meu passado,
teve ciúmes,
me roçou de leve,
quis recuar, pensou melhor, agiu,
igual a todas
se deitou comigo, dormiu
com suas pernas entre meus joelhos
e sonhou ficar multiplicada
no meu quarto de espelhos.

Leila Mícollis

A uma fonte

Zhao Dalu


Fonte pura, fonte fria...
(Onde vais, minha canção?)
Fonte pura..., assim queria
que fosse meu coração:

fluir na noite e no dia
sem se desprender do chão.


Eugénio de Andrade

Comida vegana


gostosa, saudável, e nenhum animal morto

El Intruso



Amor, la noche estaba trágica y sollozante
Cuando tu llave de oro cantó en mi cerradura;
Luego, la puerta abierta sobre la sombra helante,
Tu forma fue una mancha de luz y de blancura.

Todo aquí lo alumbraron tus ojos de diamante;
Bebieron en mi copa tus labios de frescura,
Y descansó en mi almohada tu cabeza fragante;
Me encantó tu descaro y adoré tu locura.

Y hoy río si tú ríes y canto si tú cantas;
Y si tú duermes duermo como un perro a tus plantas!
Hoy llevo hasta en mi sombra tu olor de primavera.

Y tiemblo si tu mano toca la cerradura,
Y bendigo la noche sollozante y oscura
Que floreció en mi vida tu boca tempranera!

Delmira Augustini
O INTRUSO

Amor, naquela noite trágica e soluçante
Cantou tua chave de ouro em minha fechadura;
E logo, a porta aberta sobre a sombra arrepiante,
Te vi como uma mancha de luz e de brancura.

Tudo me iluminaram teus olhos de diamante;
Beberam-me na taça teus lábios de frescura,
Na almofada pousaste-me a cabeça fragrante;
Amei-te o atrevimento e adorei-te a loucura.

E hoje rio se ris e canto se tu cantas;
Se dormes, durmo como um cão a tuas plantas!
Na própria sombra levo a tua recendente

Primavera; e, se a mão tocas na fechadura,
Tremo e bendigo a noite que -soluçante e escura-
Floriu na minha vida tua boca amanhecente

Traduzido por Anderson Braga Horta



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Poema Didático


Explicar-te como te amo?...
Bom, comecemos pela cor do vento...


José P. di Cavalcanti Jr.

Onde queres que deixe?



Onde queres que deixe as manhãs
que regressam dos poemas por dizer-te?

Onde queres que deixe o silêncio excessivo
das buganvílias que os dias ainda colhem
em cada varanda que não dá para o mar?

Onde queres que deixe as intactas travessias
que me inquietam os dedos e a sede,
como se houvesse um rio onde só a lua
tem nome e que só eu reconheço?

Onde queres que deixe a suave inclinação
de todas as planícies que um dia
te quis escrever?



sandra costa

A lebre em modo trapezista sem rede

 Jia Lu

Um céu e nada mais - que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul - como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão de ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais - que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em altorisco),
e a dança no trapézio proibido,
sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.

Ana Luísa Amaral, in “Às Vezes o Paraíso”

XXXIX - O guardador de rebanhos

Megan Duncanson.


O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.


Alberto Caeiro
(heterônimo de Fernando Pessoa)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A voz do velho bardo



Juventude do deleite, aproxima-te
E vislumbra a aurora,
Imagem da verdade nascida agora.
Dúvida, nuvens da razão,
Ardis e negra discórdia: fugazes são!
A tolice é um labirinto interminável,
De emaranhadas raízes que tornam sua trilha inviável.
Quantos lá foram emboscados!
Eles tropeçam a noite toda sobre ossadas de finados;
Ocupam-se de saber, sem saber o quê,
E buscam liderar quando deviam obedecer.


William Blake
Victor Karlovich Shtemberg - Sirens by the sea

“Até que acontece uma coisa assim, e instantânea mente você passa a aceitar todo tipo de ideia fantástica. No fundo somos todos selvagens cultuadores da lua, que sabem que o mundo é muito mais estranho do que desejamos acreditar."

Dean Koontz - Lágrimas do Dragão

De amor

 Patrick Anthony Pierson.


nada disto é explicável.
nenhuma das palavras surpreendentes
que dissemos.
nem quando ou porque surgiu o amor.


não se explica a sensibilidade
extrema no seu nascimento,
o cuidado,
o desvelo dos gestos.



nunca soube porque entendia
mesmo o que não dizias,
nem como soubeste de mim, sempre.
nossos beijos,
as mãos, as bocas,
a percorrerem o mundo
dos corpos no amor.


como nos abandonamos,
sem receio.
o que os lábios sabiam antes de nós,
a pele, os olhos.


a intensidade deste encontro
nadando nas pálpebras,
nos dias.
a estender-se nas palavras.


nunca sei,
não se explica o amor.



silvia chueire

[10] - O livro do desassossego



E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância — irmãos siameses que não estão pegados.

Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
O livro do desassossego

É preciso reviver o sonho e a certeza de que tudo vai mudar

clemente garcía martínez


É preciso reviver o sonho e a certeza de que tudo vai mudar; É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós: onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração; Pois a vida está nos olhos de quem sabe ver... Se não houve frutos, valeu a beleza das flores. Se não houve flores, valeu a sombra das folhas. Se não houve folhas, valeu a intenção da semente.



Mauricio Francisco Ceolin (não é Henfil)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Nada mais

Agnes Goodsir


não me escrevas, meu amor,
já nada mais existe.
nada mais será
aquilo que ouviste,
entre suspiro e gesto,
o corpo – a alma - disponível,
para ti já nada mais está.


silvia chueire

La musique

Ballerina - An He


La musique souvent me prend comme une mer!
Vers ma pâle étoile,
Sous un plafond de brume ou dans un vaste éther,
Je mets à la voile:

La poitrine em avant et les poumons gonflés
Comme de la toile,
J’escalade le dos des flots amoncelés
Que la nuit me voile;

Je sens vibrer em moi toutes les passions
D’un vaisseau que souffre;
Le bon vent, la tempête et sés convulsions

Sur l’immense gouffre
Me bercent. D’autres fois, calme plat, grand miroir
De mon désespoir!

Charles Baudelaire

Vieste como um barco carregado de vento

 Nicholas St. John Rosse



Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro


onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor.


Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o frio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passos


que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa


e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.



Maria do Rosário Pedreira




Quando cheguei à maturidade intelectual e comecei a perguntar-me se era ateu, teísta ou panteísta, materialista ou idealista, cristão ou livre pensador, percebi que quanto mais eu aprendia e refletia, menos fácil era a resposta, até que por fim cheguei à conclusão de que nada tinha a ver com nenhuma dessas definições, com exceção da última. Portanto, meditei e inventei o que me parece ser um rótulo adequado:"agnóstico". Pensei nele como uma antítese sugestiva dos "gnósticos" da história da igreja, que professavam conhecer coisas que eu era ignorante.


Aldous Huxley, As portas da percepção

Tortura não é arte nem cultura


Mais de 150 ativistas de várias partes do México protestaram contra as touradas nas imediações de Belas Artes. Os ativistas representavam a vida dos touros que morrem em cada “grande temporada” da Plaza México.

O México é um dos oito países onde as touradas ainda são legalizadas. Autoridades estaduais e municipais desviam dinheiro público para promover a abertura de museus de touradas e “escolas” onde se ensinam às crianças a tortura e a morte de animais. Além disso, a própria tourada é financiada com dinheiro público.

A manifestação, promovida pela organização em defesa dos animais espanhola, AnimaNaturalis, teve uma recepção da imprensa muito boa e pessoas que passaram pelo local aplaudiram e apoiaram a iniciativa de enfatizar que a tortura não é arte ou cultura.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mar





De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

#


As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.



Sophia de Mello Breyner Andresen

A única rosa

Duma Arantes


Todas as rosas são a mesma rosa,
Amor, a única rosa.

E tudo está contido nela,

Breve imagem do mundo,
Amar! A única rosa.



Juan Ramón Jiménez,