quinta-feira, 31 de março de 2011



Acordo. dormes ainda.
Que fazer se me apetece?
Pego na tua mão
e pouso-a onde estou vivo.
respiras. Andantino.
As costas para mim. Não resisto.
Os dedos, leves, ensalivados,
vão a procura do grão, do seu
pólen. Vão e vêm, vou e venho.
Beijo-te no ombro. Sorris.
Dormes ainda? Subitamente
abres os olhos e abres a boca
e debruças-te sobre mim.
O dia principia.

Casimiro de Brito
an he


Seja bem-vinda a esses versos
Estamos em guerra
Mas espero te deixar à vontade
Não ligue para as minhas histórias
É apenas nervosismo
Não fiz amor com você
Quando éramos estudantes do leste?
Sim a casa está diferente
A vila será tomada em breve
Já retirei tudo que
Pudesse ser útil ao inimigo
Estamos sós
Até que os tempos mudem
E os que forem traídos
Voltem como peregrinos a este momento
Em que não nos rendemos
Em que nos recusamos decididamente
A chamar a escuridão de poesia


Leonard Cohen

Partida

Ana Jiménez Muriel


Farto de ver. A visão que se reencontra em toda parte.
Farto de ter. O ruído das cidades, à noite, e ao sol, e sempre.
Farto de saber. As paradas da vida. - Ó Ruídos e Visões!
Partir para afetos e rumores novos.


Arthur Rimbaud

Pecado Original



Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade.

O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.

Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.

Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?

Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.

Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?

Quantos Césares fui!

Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!


Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)


Low breathings coming after me, and sounds
Of indistinguishable motion, steps
Almost as silent as the turf they trod;
[…]

*
Tênue respirar atrás de mim, e sons
De movimento indistingível, passos
Quase tão silenciosos quanto a relva que eles pisam.


William Wordsworth

quarta-feira, 30 de março de 2011

Fiódor Dostoiévski - Os Irmãos Karamazov

Sabes, meu caro, que havia um velho pecador no século XVIII que disse: "Si Dieu n'existait pas, il foudrait 1'inventer"? (*)  E, com efeito, foi o homem quem inventou Deus. E o que é espantoso não é que Deus exista realmente, mas que essa idéia da necessidade de Deus tenha vindo ao espírito de um animal feroz e mal como o homem, tão santa, comovente e sábia é ela, tanta honra faz ao homem. Quanto a mim, renunciei desde muito tempo a perguntar a mim mesmo se foi  Deus quem criou o homem ou o homem quem criou Deus. Bem entendido, não passarei em vista todos os axiomas que os adolescentes russos deduziram das hipóteses européias, porque o que na Europa é uma hipótese, torna-se logo um axioma para os ditos adolescentes, e não somente para eles, mas para seus professores, que muitas vezes se lhes assemelham. De modo que afasto todas as hipóteses: qual é, com efeito, nosso desígnio? Meu desígnio é explicar-te  o mais rapidamente possível a essência do meu ser, minha fé e minhas esperanças. Assim declaro admitir Deus, pura e simplesmente. É preciso notar, no entanto, que, se Deus existe,  se criou verdadeiramente a Terra, fê-la, como se sabe, segundo a geometria de Euclides,  e não deu  ao espírito humano senão a noção das  três dimensões do espaço. Entretanto, encontram-se ainda geômetras e filósofos, mesmo eminentes, para duvidar de que todo o universo e até mesmo todos os mundos tenham sido criados somente de acordo com os princípios de Euclides. Ousam mesmo supor que duas paralelas que, de acordo com as leis de Euclides, jamais se poderão encontrar na Terra, possam encontrar-se em alguma parte, no infinito. Decidi, sendo incapaz de compreender mesmo isto, não procurar compreender Deus. Confesso humildemente minha incapacidade em  resolver tais questões; tenho essencialmente o espírito de Euclides: terrestre. De que serve querer resolver o que não é deste mundo? E aconselho-te a jamais quebrar a cabeça a respeito, meu amigo Aliócha, sobretudo a respeito de Deus:  existe ele ou não? Essas questões estão fora do alcance de um espírito que só tem a noção das três dimensões. Assim, admito Deus, não só voluntariamente, mas ainda sua sabedoria, seu fim que nos escapa; creio na ordem, no sentido da vida, na harmonia eterna, na qual se pretende que nos fundiremos um dia: creio no Verbo para o qual propende o Universo que está em Deus e que é ele próprio Deus, até o infinito. Estou no bom caminho? Imagina que, em definitivo, esse mundo de Deus, eu não o aceito, e embora saiba que ele existe,  não o admito. Não é Deus que repilo, nota bem, mas a criação; eis o que me recuso admitir. Explico-me:  estou convencido, como uma criança, de que o sofrimento desaparecerá, que a comédia revoltante das contradições humanas se esvanecerá como uma lamentável miragem, como a manifestação vil da impotência mesquinha, como um átomo do espírito de Euclides; que no fim do drama, quando aparecer a harmonia eterna, uma revelação se produzirá, preciosa a ponto de enternecer todos os corações, de acalmar todas as indignações, de resgatar todos os crimes e o sangue vertido; de sorte que se poderá não só perdoar, mas justificar tudo quanto se passou sobre a Terra. Que tudo isso se realize, seja, mas não o admito e não quero admiti-lo. Que as paralelas se encontrem sob meus olhos, verei e direi que se encontraram; e no entanto não o admitirei. Eis o essencial, Aliócha, eis minha tese. Comecei expressamente nossa conversa duma maneira que não podia ser mais idiota, mas levei-a até minha confissão, porque é o que esperas. Não era a questão de Deus que te interessava, mas a vida espiritual do teu irmão querido. Tenho dito.

Fiódor Dostoiévski - Os Irmãos Karamazov

* "Se Deus não existisse, precisaríamos inventá-lo."
Citação da Epístola -  "Três Impostores", de Voltaire.

Sonhar

Anny Maddock.


Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
É ambicionar o céu; é dominar o espaço,
Num vôo poderoso e audaz da fantasia.

Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim, no deslumbrante paço
De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.

É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
É alçar, constantemente, o olhar ao céu profundo.

Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em plagas deste mundo.


Helena Kolody
Francine Van Hove

fim do ensaio,
ausente o que é de mim.
vá.
me desfaça.

apague as marcas e o rastro de voltar.
silencie o sim, me diga não.

desculpe qualquer coisa
(mas sem perdão).

a mim, esse deserto que busquei.
a ti, o ver que o sonho se desfaz.

e só para doer, minha certeza:
te amar é vício que não deixo mais.

Antoniel Campos



Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum. É uma lucidez vazia, como explicar? Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou, por assim dizer, vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo, pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço. Além do que, que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes. Pois sei que - em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade - essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.

Clarice Lispector

terça-feira, 29 de março de 2011

Jules-Joseph Lefebvre


Amo em ti o medo
de morrer, folha
que vai caindo
no meu olhar, entre a luz
e o pó
o pó e a cal
da minha morte. Nua
e acolhida
à sombra da árvore que passa.

Casimiro de Brito


by Emanuela Baioni

A incerteza cai com a tarde
no limite da praia. Um pássaro
apanhou-a, como se fosse
um peixe, e sobrevoa as dunas
levando-a no bico. O
seu desenho é nítido, sem
as sombras da dúvida ou
as manchas indecisas da
angústia. Termina com a
interrogação, os traços do fim,
o recorte branco de ondas
na maré baixa. Subo a estrofe
até apanhar esse pássaro
com o verso, prendo-o à frase,
para que as suas asas deixem
de bater e o bico se abra. Então,
a incerteza cai-me na página, e
arrasta-se pelo poema, até
me escorrer pelos dedos para
dentro da própria alma.


Nuno Júdice
Max Nonnenbruch


Cansa-me ser quem serei
Porque em tudo esse outro
Se parece com o que sou.
Cansa-me o adeus de quem nasce.
E a viagem, à nascença, morre de fadiga.

Só a tua lava me lava.
Resto eu em ti
Terra ardendo,
Chão de água e fogo

Abraça-me.
Abrasa-me.

Mia Couto


Sobre a angústia

by Arthur Braginsky


Porque a angústia, meu amor, é essa tristeza sem rosto, sem acontecimento, sem desencadeador, sem réu. É de repente não caber em lugar algum e escrever esse amontoado de palavras magoadas com ninguém. Essa angústia a gente não puxa, não escolhe, ela entra na gente assim como a noite caindo lenta e definitiva. E ela aperta teu peito com toda disposição do mundo. Angústia te tira do mundo de fora, te deixa encolhido olhando pra dentro, porque não se pode apontar o dedo e nem colocar a culpa em ninguém, ela simplesmente é esse mal-estar que te faz querer mudar tudo de lugar e se fazer alguns ajustes. Você não vai conseguir sequer fingir que está bem se ela te abraçar. Angustia te deixa enfastiado com a própria rotina, com o seu jeito antigo de conduzir as coisas. Ela te pede morte e renovação. Ela te impõe uma perda irremediável do que você era antes, ela te força a trocar de pele como se você tivesse tomado muito sol ...sem proteção. O que a angústia quer de você é a desaceleração pra parar e contemplar e agir de acordo com o que pede a tua sede de alma...

Ela vem pra gritar aquilo que seu coração sussurrou tantas vezes num momento em que você pensava estar ocupado demais para ouvir.


Marla de Queiróz

Nosso Tempo:

Brita Seifert


I

Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.

II

Esse é tempo de divisas,
tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
obscenos gestos avulsos.

Mudou-se a rua da infância.
E o vestido vermelho
vermelho
cobre a nudez do amor,
ao relento, no vale.

Símbolos obscuros se multiplicam.
Guerra, verdade, flores?
Dos laboratórios platônicos mobilizados
vem um sopro que cresta as faces
e dissipa, na praia, as palavras.

A escuridão estende-se mas não elimina
o sucedâneo da estrela nas mãos.
Certas partes de nós como brilham! São unhas,
anéis, pérolas, cigarros, lanternas,
são partes mais íntimas,
e pulsação, o ofego,
e o ar da noite é o estritamente necessário
para continuar, e continuamos.

III

E continuamos. É tempo de muletas.
Tempo de mortos faladores
e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,
mas ainda é tempo de viver e contar.
Certas histórias não se perderam.
Conheço bem esta casa,
pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,
a sala grande conduz a quartos terríveis,
como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na mesa,
conduz à copa de frutas ácidas,
ao claro jardim central, à água
que goteja e segreda
o incesto, a bênção, a partida,
conduz às celas fechadas, que contêm:
papéis?
crimes?
moedas?

Ó conta, velha preta, ó jornalista, poeta, pequeno historiados urbano,
ó surdo-mudo, depositário de meus desfalecimentos, abre-te e conta,
moça presa na memória, velho aleijado, baratas dos arquivos, portas rangentes, solidão e asco,
pessoas e coisas enigmáticas, contai;
capa de poeira dos pianos desmantelados, contai;
velhos selos do imperador, aparelhos de porcelana partidos, contai;
ossos na rua, fragmentos de jornal, colchetes no chão da
costureira, luto no braço, pombas, cães errantes, animais caçados, contai.
Tudo tão difícil depois que vos calastes...
E muitos de vós nunca se abriram.

IV

É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso
na esquina. Tempo de cinco sentidos
num só. O espião janta conosco.

É tempo de cortinas pardas,
de céu neutro, política
na maçã, no santo, no gozo,
amor e desamor, cólera
branda, gim com água tônica,
olhos pintados,
dentes de vidro,
grotesca língua torcida.
A isso chamamos: balanço.

No beco,
apenas um muro,
sobre ele a polícia.
No céu da propaganda
aves anunciam
a glória.
No quarto,
irrisão e três colarinhos sujos.

V

Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa,
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso.
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida,
mais tarde será o de amor.

Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem.
O esplêndido negócio insinua-se no tráfego.
Multidões que o cruzam não vêem. É sem cor e sem cheiro.
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul,
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões,
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.

Escuta a hora espandongada da volta.
Homem depois de homem, mulher, criança, homem,
roupa, cigarro, chapéu, roupa, roupa, roupa,
homem, homem, mulher, homem, mulher, roupa, homem,
imaginam esperar qualquer coisa,
e se quedam mudos, escoam-se passo a passo, sentam-se,
últimos servos do negócio, imaginam voltar para casa,
já noite, entre muros apagados, numa suposta cidade, imaginam.
Escuta a pequena hora noturna de compensação, leituras, apelo ao cassino, passeio na praia,
o corpo ao lado do corpo, afinal distendido,
com as calças despido o incômodo pensamento de escravo,
escuta o corpo ranger, enlaçar, refluir,
errar em objetos remotos e, sob eles soterrados sem dor,
confiar-se ao que bem me importa
do sono.

Escuta o horrível emprego do dia
em todos os países de fala humana,
a falsificação das palavras pingando nos jornais,
o mundo irreal dos cartórios onde a propriedade é um bolo com flores,
os bancos triturando suavemente o pescoço do açúcar,
a constelação das formigas e usurários,
a má poesia, o mau romance,
os frágeis que se entregam à proteção do basilisco,
o homem feio, de mortal feiúra,
passeando de bote
num sinistro crepúsculo de sábado.

VI

Nos porões da família
orquídeas e opções
de compra e desquite.
A gravidez elétrica
já não traz delíquios.
Crianças alérgicas
trocam-se; reformam-se.
Há uma implacável
guerra às baratas.
Contam-se histórias
por correspondência.
A mesa reúne
um copo, uma faca,
e a cama devora
tua solidão.
Salva-se a honra
e a herança do gado.

VII

Ou não se salva, e é o mesmo. Há soluções, há bálsamos
para cada hora e dor. Há fortes bálsamos,
dores de classe, de sangrenta fúria
e plácido rosto. E há mínimos
bálsamos, recalcadas dores ignóbeis,
lesões que nenhum governo autoriza,
não obstante doem,
melancolias insubornáveis,
ira, reprovação, desgosto
desse chapéu velho, da rua lodosa, do Estado.
Há o pranto no teatro,
no palco? no público? nas poltronas?
há sobretudo o pranto no teatro,
já tarde, já confuso,
ele embacia as luzes, se engolfa no linóleo,
vai minar nos armazéns, nos becos coloniais onde passeiam ratos noturnos,
vai molhar, na roça madura, o milho ondulante,
e secar ao sol, em poça amarga.
E dentro do pranto minha face trocista,
meu olho que ri e despreza,
minha repugnância total por vosso lirismo deteriorado,
que polui a essência mesma dos diamantes.

VIII

O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
prometa ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta
um verme.


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 28 de março de 2011

by BritaSeifert

Amor meu, ao fechar esta porta noturna
te peço, amor, uma viagem por escuro recinto:
fecha teus sonhos, entra com teu céu em meus olhos,
estende-te em meu sangue como num amplo rio.

Adeus, adeus, cruel claridade que foi caindo
no saco de cada dia do passado,
adeus a cada rio de relógio ou laranja,
saúde, oh sombra, intermitente companheira!

Nesta nave ou água ou morte ou nova vida,
uma vez mais unidos, dormidos, ressurgidos,
somos o matrimônio da noite no sangue.

Não sei quem vive ou morre, quem repousa ou desperta,
mas é teu coração o que reparte
em meu peito os dons da aurora.


Pablo Neruda

Rosas

Arthur Braginsky 

Para as rosas, escreveu alguém,
o jardineiro é eterno.
E que melhor maneira de ferir o eterno
que mofar das suas iras?

Eu passo, tu ficas;
mas eu não fiz mais que florir e aromar,
servi a donas e a donzelas, fui letra de amor,
ornei a botoeira dos homens, ou expiro no próprio
arbusto, e todas as mãos, e todos os olhos me trataram
e me viram com admiração e afeto.

Tu não, ó eterno;
tu zangas-te, tu padeces, tu choras, tu afliges-te!
A tua eternidade não vale um só dos meus minutos.


Machado de Assis

john paul

O tempo, infinito tempo, em que te abracei. O tempo das memórias. O tempo da tua voz. O tempo, inacessível tempo, dos nossos beijos. Inatingível tempo do Nós. O tempo das memórias fingidamente esquecidas do futuro tempo sonhado. O tempo das lágrimas, queridas lágrimas. O tempo da incerteza. O tempo do carinho. O tempo do nada e da tristeza, na tua ausência. Este tempo em que te digo: - Fala-me, não pares de falar. Ouvindo-te tenho a certeza de que sou real, e de que também tu és, fora de mim, real.

Manuel António Pina

in Lembranças

Regresso

Bo Bartlett

Sem mais nem menos
surgiu o passado,
corpo intranquilo
feito de sons semelhantes
aos rostos que amei,
universo donde me excluí,
mar desprovido de cais
na obliquidade dos contrastes.

Esta noite voltei à minha infância:
menina rosada de sonhos nos bolsos,
bailarina de corda na caixinha de som.

À infância regressa-se solitariamente,
subindo um rio sem margens,
até ao lugar em que a nascente
se confunde com o tempo
e o tempo se transforma em espanto.

Procuro, teimosamente,
o rasto da brisa
que me invade o corpo
e apenas sei que o sonho
é um risco inquietante,
quando a solidão tem rosto
e se conhece a posição das estrelas
no âmago das palavras.

Reinicio a infância
no esboço do poema
e circunscrevo o litoral
fragmentado do que sou.

Quem foi que descodificou
o céu no meu olhar
e me deixou na alma
um deus imaginado?

Quando o espaço do sonho é circular
como o tempo das cerejas,
ou da migração dos pássaros
que fendem o infinito,
inadiado é o rito da poesia.

Se eu fosse uma gaivota, dançaria
na proa dos veleiros
até à hipnose
de abraçar a maresia.


Graça Pires

Teu nome é quase indiferente
e nem teu rosto mais me inquieta.
A arte de amar é exatamente
a de se ser poeta.

Para pensar em ti, me basta
o próprio amor que por ti sinto:
és a ideia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.

O lugar da tua presença
é um deserto, entre variedades:
mas nesse deserto é que pensa
o olhar de todas as saudades.

Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silêncio, obscuro, disperso.

Teu corpo, e teu rosto, e teu nome,
teu coração, tua existência,
tudo – o espaço evita e consome:
e eu só conheço a tua ausência.

Eu só conheço o que não vejo.
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.

Cecília Meireles

sábado, 26 de março de 2011

Noturno nº 2

by Jeremy Mann.

Estás no pensamento,
fixa, presa,
como a estrela no céu
como a nudez da beleza
sob um véu...

Estás no pensamento,
como a espuma na vaga...
Em vão o vai e vem do mar:
ela nunca apaga...

Estás no pensamento
como, na estória, o tema;
como a palavra, no poema;
como o sopro, no vento;
como a música no instrumento;

como o marulho no rio;
como a chama no pavio;
ou o pêndulo, no movimento...

Estás no meu pensamento
como a tatuagem na epiderme;
como a forma na escultura;
como o ritmo no "ballet"...
Como no espírito inerme
a amargura
ou a fé...

Estás no meu pensamento
como o som
na corda distendida;
como, na bússola, o Norte;
como a esperança, na vida;
como na Vida
a Morte!


J.G. de Araújo Jorge

Certas Canções

Chen Yifei

Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece
Como não fui eu que fiz?

Certa emoção me alcança
Corta-me a alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor

Contos da água e do fogo
Cacos de vidas no chão
Cartas do sonho do povo
E o coração pro cantor
Vida e mais vida ou ferida
Chuva, outono, ou mar
Carvão e giz, abrigo
Gesto molhado no olhar

Calor que invade, arde, queima, encoraja
Amor que invade, arde, carece de cantar


Composição : Tunai/ Milton Nascimento

Delírios

II

A alquimia do verbo

A mim. A história de uma das minhas loucuras.

Desde há muito eu me vangloriava de possuir todas as paisagens possíveis, e me pareciam irrisórias as celebridades da pintura e da poesia moderna.

Gostava das pinturas idiotas, capitéis, cenários, telas de saltimbancos, tabuletas, iluminuras populares; a literatura fora de moda, latim de igreja, livros eróticos sem ortografia, romances de nossas avós, contos de fadas, livros infantis, óperas antigas, estribilhos idiotas, ritmos ingênuos.

Sonhava com cruzadas, viagens de descobertas da quais não existem notícias, republicas sem historia, guerras religiosas sufocadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e continentes: eu acreditava em todos os encantamentos.

Inventei a cor das vogais! — 'A' negro, 'E' branco,'I' vermelho, 'O' azul, 'U' verde. — Ordenei a forma e o movimento de cada consoante e, com ritmos instintivos, pretendi inventar um verbo poético acessível, mais dias menos dias, a todos os sentidos. Eu me reservava sua tradução.

Antes, foi apenas um estudo. Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens.


Arthur Rimbaud
David Cunningham

no primeiro sábado da tua ausência, comecei a ser louco.

comecei a ver coisas estranhíssimas: um homem que eu não conhecia, vestido de cigano, começou a falar comigo. ao início, apenas previa o meu futuro, mas depois, à medida que as visitas se tornaram mais frequentes, percebi que era eu mesmo em mais novo.

que há-de ser um homem a falar com o jovem de si próprio?

e compreendi a loucura: uma manada de búfalos acelerando a pulsação. o coração de um búfalo onde deve estar a solidão.

e comecei a duvidar da existência. olhava para as coisas e tinha de lhes tocar para saber que eram tuas. as tuas roupas de quando estavas nua. comecei a usar tua roupa, o teu perfume, o teu talher, o teu copo, a tua lâmpada de ler à noite.

comecei a ler na página marcada um livro que deixaste sobre a cama, sobre animais selvagens. os animais começaram a falar comigo, eu conheci a fala deles e fechei o livro.

que há-de ser um homem a falar com os livros?

dei por mim a desejar que o jovem voltasse. dei por mim a falar com ele, prostrado à loucura. e comecei a ver-te ao lado dele, em mais nova. usavas as roupas de quando estavas nua.

aceso o desejo, vi o triângulo da tua carne subitamente iluminado.

o triângulo da loucura, no primeiro sábado da tua ausência.



alice macedo campos

Atenção ao Sábado


Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.
No sábado é que as formigas subiam pela pedra.
Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho.
De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a rosa de nossa semana.
Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?
No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde.
Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.
Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã.
Domingo de manhã também é a rosa da semana.
Não é propriamente rosa que eu quero dizer.


Clarice Lispector

sexta-feira, 25 de março de 2011

Duas flores


Christiane Vleugels.

São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Christiane Vleugels

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!


Castro Alves
Denis Oktyabr

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.


Luís de Camões

Não posso mais fazer amor contigo: um paradoxo

Pino Daene


Não vou mais fazer amor contigo, dissera-lhe decidido.
A necessidade de controle - de se saber dono de si mesmo, como se o desejo o desmantelasse. Como se em cada orgasmo, naquele momento em que se sentia fora de si, pudesse mesmo deixar de ser definitivamente. A ameaça de para além do prazer, abandonar-se ali. Logo ele, tão cioso de sua auto-suficiência.

Não mais fazer amor com ela, exatamente porque era tão bom fazê-lo. A obsessão que o perseguia. A obsessão por ela e a obsessão de não vir a ser subjugado por ela, pelo amor, de modo que sempre que ela quisesse o teria. A necessidade angustiada e compulsiva de se afastar. Tal qual um pecador se afasta do pecado, ou um jogador se afasta do jogo. Fugir da tentação do demônio. Ele, o ateu. Sabia, no seu íntimo, que ninguém, mulher ou homem, era seu dono, ninguém o possuía. Apesar disso, tinha aquele fantasma a assombrá-lo.

A descoberta da liberdade, ao fazer amor, fora fascinante. O amor no seu estado natural, livre. Era um homem experiente e nunca tinha vivido aquela plenitude. Tinha consciência de que a surpresa não era apenas sua. Vira o rosto dela iluminado. Percebera-lhe a perplexidade, o sorriso no olhar. Sentira-a nos gemidos, na umidade macia do sexo, ele na sua inteireza, a penetrá-la como se aquele tivesse sido sempre o seu lugar. Sabia da entrega daquele corpo, do absoluto que viviam. Estremecimento mútuo. Alegria mútua.

Nem uma vez se sentira só. Nem uma vez quisera não estar ali após o amor, ou sentira a sensação de tédio que o acometera tantas vezes com outras mulheres. Ao contrário, seus corpos encaixavam-se perfeitamente mesmo após fazerem amor. E as conversas eram carregadas de fascínio com as idéias de ambos, de ternura, de confiança, de um desguardar-se antes desconhecido.
No entanto, permanecia o medo. Retornava à sua cabeça a idéia, ridícula, pensava às vezes - de que pudesse ser controlado, dominado. Como se ela fosse uma bruxa que o tivesse enfeitiçado. Temores ancestrais a baterem à sua porta. Como se não soubesse que ela o queria, que também ela vivera tudo aquilo.

Não tinha palavras que traduzissem a importância do que sentira. Exatamente por isso estava determinado a não mais fazê-lo. Não queria sentir necessidade daquela mulher. E sua decisão não dependia de qualquer outro fato que não fosse sentir-se irremediavelmente atraído por ela. Sabia que quando ela o chamasse, iria. E ela, ele tinha a noção exata disso, amava-o e por isso o chamaria mais cedo ou mais tarde.
Viviam um despojamento de si próprios, o paradoxo de exercerem ao mesmo tempo suas individualidades e fundirem-se num só.

Decidira negar-se a fazer amor com ela, como se a sua natureza estivesse colocada num lugar exterior a si. Assombrado pela sensação de que seu desejo não lhe pertencia, mas a ela. Decidia como quem afirma : sou um Homem, ninguém é meu dono. Extinto o ato, extinguir-se-á o efeito, pensava. Decidia seu destino em meio àquelas sensações estranhas e à angústia. Para o poder fazer, culpava-a. Ela, a terrível.

Não percebia que ao desistir dela, abria mão do que de mais humano, mais completamente amoroso e pessoal, jamais vivera. Sua experiência mais íntima, a que nunca poderia ser vivida por outro. Não se dava conta de que faltaria daí em diante uma parte sua. Não apenas o corpo , o calor, os beijos, a presença, as conversas afinadas, mas seu próprio sentido. A possibilidade de sentir-se vivo e inteiro.

Ao afastar-se mergulhava no paradoxo de afirmar sua independência e negar sua natureza.
Por medo de se perder por ela, perdia-se de si mesmo.

Silvia Chueire
Denis Chernov 
 
Eu que tenho andado por aí
que tenho feito algumas coisas sem sentido
que algumas vezes não refletem o que sou
eu que tenho sido já tantas mulheres
quero agora te mostrar
o que tão longamente em mim se acumulou

quero agora tirar os sapatos e o cansaço
de te contar vitórias inventadas
de inventar histórias necessárias
a insegurança toda fantasiada
as emoções fugindo de medo
a verdade posta assim fora do alcance

eu quero te mostrar
o que tão de repente em mim perdeu o sentido
mostrar as minhas marcas de nascença
te levar pra casa da minha mãe
descer as escadas, te contar
os quartos que eu tive, os cachorros que eu tive

eu quero te mostrar meu mal e o meu veneno
ranhuras escondidas, encontros furtivos
as saídas, os cinemas ordinários
como sonhei nas noites e quantas febres
quantos desejos na ponta dos meus dedos
quanta ameaça de pecado e quanto medo

eu quero te mostrar que eu nem mesmo sou bonita
olhada assim de perto às vezes
e tenho momentos de um ridículo irremediável
e uma série de pequenas vergonhas

Você há de notar logo o quanto eu preciso
que voce goste de mim
o quanto eu me desfaço e arrebento
e o quanto eu tento voltar sempre inteira

você há de perceber que eu sou de uma fragilidade
meio assim asa de passarinho
de pardal comum, e muitas vezes
não tem brilho nenhum a minha intimidade

você vai reparar minha impotência
diante de quase tudo e o medo que eu tenho
que você não goste de mim

que você saia primeiro
e me deixe sozinha
atrás desse cenário mal feito
desse teatro vagabundo
que tá ameaçando a cair.


Bruna Lombardi

Outono

by Malakhaeva Olga

Uma lâmina de ar
atravessando as portas. Um arco,
uma flecha cravada no outono. E a canção
que fala das pessoas. Do rosto e dos lábios das pessoas.
E um velho marinheiro grave, rangendo o cachimbo como
uma amarra. À espera do mar. Esperando o silêncio.
É Outono. Uma mulher de botas atravessa-me a tristeza
quando saio para a rua, molhado, como um pássaro.
Vêm de muito longe as minhas palavras, quem sabe se
da minha revolta última. Ou do teu nome que repito.
Hoje há soldados elétricos. Uma parede
cumprimenta o sol. Procura-se viver.
Vive-se, de resto, em todas as ruas, nos bares e nos cinemas.
Há homens e mulheres que compram o jornal e amam-se
como se, de repente, não houvesse mais nada senão
a imperiosa ordem de (se) amarem.
Há em mim uma ternura desmedida pelas palavras.
Não há um nome para a tua ausência. Há um muro
que os meus olhos derrubam. Um estranho vinho
que a minha boca recusa. É Outono.
A pouco e pouco despem-se as palavras.


Joaquim Pessoa

quarta-feira, 23 de março de 2011

Levitação


by Hugo Romano

É um movimento que levita, o das mãos a dizerem quase-preces, quase-vidas, quase-sensações. Traz consigo a chama do olhar, a essência de alguma coisa que não podemos definir, algo que arde, eleva-se, nasce do vôo, do mergulho, do fogo, ou do abismo. E quando o gesto se transforma no ato de, tomada a pena, escrever palavras , todo este movimento atinge o auge da transmutação.

As mãos a criarem uma ordem de palavras. Palavras elevando-se como seres recriados, novos no seu esplendor, pássaros estremecidos na sua capacidade de voar. E as mãos a levitarem na enorme distância entre elas e o poema, na curtíssima distância entre elas e o poema.

Aí nos entregamos a um canto que remove todos os obstáculos. E deitamos o corpo, a razão, a desrazão e os sentimentos sem medo, nas mãos das mãos, nas palavras encadeadas.


Silvia Chueire


Sei que o tempo é um truque que inventamos porque o sol se levanta e se põe . É um truque que inventamos para medir o nosso desespero, a nossa alegria, a distância que nos separa do que queremos , a deterioração inevitável do corpo.

Tu reinventas o tempo para poderes me esperar e voar para mim. Sei que me esperas e queres que te espere. E o faço.

Assim, os dias, as horas, são eu a pensar em ti. E as palavras apenas uma escusa para falar-te, para tocar-te, para abreviar os minutos e a minha necessidade de ti.
O sol a bater-me no rosto pela manhã, as palavras trocadas com as pessoas no caminho, a canção ouvida, de passagem, na rua, o sorriso a um amigo. Todos são o amor a esperar por ti. O meu amor depositado na espera.
A minha vida sou eu a amar-te.


Silvia Chueire

Docemente

Donna Tuten

Docemente
disponho dos teus braços

dos peixes que navegam
docemente

Docemente
disponho em minha face

a faca dos teus olhos
docemente.

Docemente
canso, disponho do cansaço

primeiro do teu afago
docemente

Docemente
afago, a tua boca apago

e vou negando a minha
docemente.


Maria Teresa Horta

Você botão de rosa
Amanhã a flor mulher
Joia preciosa,  cada um deseja e quer
De manhã banhada ao sol
Vem o mar beijar
Lua enciumada noite alta vai olhar
Você, menina moça,
Moça mais menina que mulher
Confissões não ouça
Abra os olhos se puder
Tudo tem seu tempo certo
Tempo para amar
Coração aberto faz chorar
A lua,
O sol,
A praia,
O mar,
Lição de deus,
A vida eterna para amar.

Luis Antônio