sábado, 26 de dezembro de 2015

The Secret of the Sea



Ah! what pleasant visions haunt me
  As I gaze upon the sea!
All the old romantic legends,
  All my dreams, come back to me. 

Sails of silk and ropes of sandal,
  Such as gleam in ancient lore;
And the singing of the sailors,
  And the answer from the shore! 

Most of all, the Spanish ballad
  Haunts me oft, and tarries long,
Of the noble Count Arnaldos
  And the sailor's mystic song. 

Like the long waves on a sea-beach,
  Where the sand as silver shines,
With a soft, monotonous cadence,
  Flow its unrhymed lyric lines;-- 

Telling how the Count Arnaldos,
  With his hawk upon his hand,
Saw a fair and stately galley,
  Steering onward to the land;-- 

How he heard the ancient helmsman
  Chant a song so wild and clear,
That the sailing sea-bird slowly
  Poised upon the mast to hear, 

Till his soul was full of longing,
  And he cried, with impulse strong,--
"Helmsman! for the love of heaven,
  Teach me, too, that wondrous song!" 

"Wouldst thou,"--so the helmsman answered,
  "Learn the secret of the sea?
Only those who brave its dangers
  Comprehend its mystery!" 

In each sail that skims the horizon,
  In each landward-blowing breeze,
I behold that stately galley,
  Hear those mournful melodies; 

Till my soul is full of longing
  For the secret of the sea,
And the heart of the great ocean
  Sends a thrilling pulse through me.


Henry Wadsworth Longfellow


En secreto, con voz de confesar lo más importante de mi vida, le dije que la lluvia me da miedo.

Alejandra Pizarnik

A umas saudades



Parti, coração, parti,
navegai sem vos deter,
ide-vos, minhas saudades
a meu amor socorrer.
Em o mar do meu tormento
em que padecer me vejo
já que amante me desejo
navegue o meu pensamento:
meus suspiros, formai vento,
com que me façais ir ter
onde me apeteço ver;
e diga minha alma assim:
Parti, coração, parti,
navegai sem vos deter.
Ide donde meu amor
apesar desta distância
não há perdido constância
nem demitido o rigor:
antes é tão superior
que a si se quer exceder,
e se não desfalecer
em tantas adversidades,
Ide-vos minhas saudades
a meu amor socorrer.

Gregório de Matos. "Seleção de Obras Poéticas".



foram-se os olhos, não o corpo.
a alma, tampouco, se afastou.
só a tola necessidade de distância,
a querer fingir que é longe
o que tão perto vive.

levarei na pele o entalhe que deixaste.
pagarei na pele o que te deixo.

mas antes que partamos, um lembrete:
se ouvires meu riso, não te esqueças
: são lágrimas sorrindo em falsete,
o timbre derradeiro que mereço.

o que eu sou nem mais me lembro.
de ti jamais me esqueço.

Antoniel Campos

O Vento na Ilha



O vento é um cavalo
Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.

Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.

Escuta como o vento
me chama calopando
para me levar para longe.

Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.

Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
entretanto eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite
descansarei, amor meu.

Pablo Neruda

Pieter Wagemans

Amor – poesia que não tem rima, nem estrofe – talvez o poema mais curto e mais longo do mundo. Palavra mais leve e mais densa, uma certeza incerta, um doce que por vezes é amargo. Amor é verbo forte. Amor é par. Amor é ímpar. É companhia e é solidão. Parem de ficar classificando, julgando, evitando. Percebam. Amor é verbo conjugado no ‘sentir’.

Cristina Sousa

A solidão




Ora, a solidão, ainda vai ter de aprender muito para saber o que isso é, Sempre vivi só, Também eu, mas a solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz, Você está a tresvariar, tudo quanto menciona está ligado entre si, aí não há nenhuma solidão, Deixemos a árvore, olhe para dentro de si e veja a solidão, Como disse o outro, solitário andar por entre a gente, Pior do que isso, solitário estar onde nem nós próprios estamos.

José Saramago, in 'O Ano da Morte de Ricardo Reis'



Tudo me é uma dança em que procuro
A posição ideal,
Seguindo o fio dum sonhar obscuro
Onde invento o real.
À minha volta sinto naufragar
Tantos gestos perdidos
Mas a alma, dispersa nos sentidos,
Sobe os degraus do ar…

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Poesia

O teu sorriso


Brenda Marshall

E se o céu fosse só isto…?

As nuvens dos teus lábios
O infindável azul da tua boca…

e eu feito ave louca
a sobrevoar-te num beijo
a embebedar-me de desejo
a morar no teu sorriso…

Ai, se o céu fosse só isto
e nada mais fosse preciso!


João Morgado in Rio de Doze águas

Carolina Serpa Marques 

"A vida sem a música é simplesmente um erro, uma tarefa cansativa, um exílio."

Friedrich Nietzsche, em "Cartas a Peter Gast", Nice, 15 de janeiro de 1888


Amanhã, ou enquanto dormes
- agora mesmo -, vou pensar em ti.
Intensamente: até que as horas me doam sobre a pele,
e o movimento dos dias passe como aves
que perdem o sentido do voo - até que tudo
o que me rodeia tome a forma do teu corpo.
E em mim circules - quando estendo a mão
por dentro da noite e te acordo,
no fogo dos meus olhos.

Al Berto

Os filhos da época



Somos os filhos da época,
e a época é política.

Todas as coisas - minhas, tuas, nossas,
coisas de cada dia, de cada noite
são coisas políticas.

Queiras ou não queiras,
teus genes têm um passado político,
tua pele, um matiz político,
teus olhos, um brilho político.

O que dizes tem ressonância,
o que calas tem peso
de uma forma ou outra - político.

Mesmo caminhando contra o vento
dos passos políticos
sobre solo político.

Poemas apolíticos também são políticos,
e lá em cima a lua já não dá luar.
Ser ou não ser: eis a questão.

Oh, querida que questão mal parida.
A questão política.
Não precisas nem ser gente
para teres importância política.

Basta ser petróleo, ração,
qualquer derivado, ou até
uma mesa de conferência cuja forma
vem sendo discutida meses a fio.

Enquanto isso, os homens se matam,
os animais são massacrados,
as casas queimadas,
os campos se tornam agrestes
como nas épocas passadas
e menos políticas.

Wisława Szymborska

Homo infimus

fabian perez


"Homem, carne sem luz, criatura cega,
Realidade geográfica infeliz,
O Universo calado te renega
E a tua própria boca te maldiz!

O nôumeno e o fenômeno, o alfa e o omega
Amarguram-te. Hebdômadas hostis
Passam... Teu coração se desagrega,
Sangram-te os olhos, e, entretanto, ris!

Fruto injustificável dentre os frutos,
Montão de estercorária argila preta,
Excrescência de terra singular.

Deixa a tua alegria aos seres brutos,
Porque, na superfície do planeta,
Tu só tens um direito: — o de chorar!"

Augusto dos Anjos