Detestamos aqueles que "escolheram" viver na mesma época que nós, que correm a nosso lado, que entravam nossos passos ou nos deixam para trás. Em termos mais claros: todo contemporâneo é odioso. Conformamo-nos com a superioridade de um morto, jamais com a de um vivo, cuja simples existência constitui para nós uma censura e uma acusação, um convite às virtudes da modéstia. Que tantos semelhantes nos ultrapassem é um evidência intolerável que esquivamos nos arrogando, por uma astúcia instintiva ou desesperadas, todos os talentos e atribuindo-nos a vantagem de ser únicos. Sufocamos perto de nossos êmulos ou de nossos modelos: que alívio diante de suas tumbas! O próprio discípulo só respira e se emancipa com a a morte do mestre.
Emil Cioran