quarta-feira, 21 de setembro de 2022

As pequenas gavetas do amor

 




Se for preciso, irei buscar um sol

para falar de nós:

ao ponto mais longínquo

do verso mais remoto que te fiz


Devagar, meu amor, se for preciso,

cobrirei este chão

de estrelas mais brilhantes

que a mais constelação,

para que as mãos depois sejam tão

brandas

como as desta tarde


Na memória mais funda guardarei

em pequenas gavetas

palavras e olhares, se for preciso:

tão minúsculos centros

de cheiros e sabores


Só não trarei o resto

da ternura em resto desta tarde,

que nem nos foi preciso:

no fundo do amor, tenho-a comigo:


quando a quiseres -


Ana Luísa Amaral, in IMAGIAS