sábado, 22 de junho de 2024

 


Se o vires, diz-lhe que o tempo dele não passou;

que me sento na cama, distraída, a dobar demoras

e, sem querer, talvez embarace as linhas entre nós.

Mas que, mesmo perdendo o fio da meada por

causa dos outros laços que não desfaço, sei que o

amor dá sempre o novelo melhor da sua mão. Se

o encontrares, diz-lhe que o tempo dele não passou;

que só me atraso outra vez, e ele sabe que me atraso

sempre, mas não de mais; e que os invernos que ele

não gosta de contar, mas assim mesmo conta que nos

separam, escondem a minha nuca na gola do casaco,

mas só para guardar os beijos que me deu. Se o vires,

diz-lhe que o tempo dele não passa, fica sempre.


Maria do Rosário Pedreira