existem tantos labirintos que é impossível supor a exemplificação contrária: pintores, poetas, músicos, filósofos, amantes, errantes, piedosos, deuses, arquitetos. todas as vidas se movem entre labirintos: o labirintos das almas que mal se reconfortam com suas indecisões e sofrem; o labirinto da língua que escreve e escava e morde e não conclui jamais o poema; o labirinto das paixões que se desencadeiam para o vazio; o labirinto da voz que não acaba por expressar-se; o labirinto da memória que lembra e esquece ao mesmo tempo.
algumas coisas começam pela palavra e continuam o caminho da sensação, da percepção, do conhecimento. outras coisas nunca são palavra e mesmo assim exibem a dupla forma do seu desassossego e de seu encantamento. o labirinto é tudo porque é detenção e é movimento: trata-se de olhar-nos nos olhos, não de conhecer-nos. trata-se de dar-nos palavras, não de negociar o espanto; trata-se de cruzar os olhos, não de cruzar os braços.
Desobedecer a linguagem: educar
Carlos Skliar