Sorrio aos animais que sorriem às árvores porque essa é
também uma forma de amar e de olhar por ti, quando sin-
to a tua vida a pulsar como uma estrela ou um vocábulo e
eu já não tenho perguntas que te faça nem outra forma de
segurar as tuas mãos a não ser a dor e o júbilo de te olhar
com a mesma alegria feliz com que olho uma manhã car-
regada de frutos.
Quando os animais se afastarem caminhando pela tua au-
sência, ainda azuis mas incompletos, restará a sombra das
árvores e a tua recordação na inquietação dos pássaros, ou
a minha antiga tristeza cantando por entre uma floresta de
poemas que escrevi para celebrar, no teu corpo, o canto
inesgotável.
Adiei-me por ti. E por ti ardo, como o velho anjo que pegou
o fogo aos quatro pontos cardeais.
Joaquim Pessoa