domingo, 24 de dezembro de 2023


Abro a caixa do poema para descobrir

velhos versos, estrofes que ficaram a meio,

imagens gastas pelo bolor dos anos. Devia

ter deitado tudo para o lixo, no meio

de metáforas sem uso, de aliterações

surdas, de hipérboles furadas como balões

de feira. Mas encontro palavras que ainda

me servem, as que falam de coisas que não

passam, as que trazem um eco de vozes

que voltam a soar aos meus ouvidos, como

se estivessem comigo. E volto a fechá-la,

para não perder o que nunca tive.


 Nuno Júdice