Abro a caixa do poema para descobrir
velhos versos, estrofes que ficaram a meio,
imagens gastas pelo bolor dos anos. Devia
ter deitado tudo para o lixo, no meio
de metáforas sem uso, de aliterações
surdas, de hipérboles furadas como balões
de feira. Mas encontro palavras que ainda
me servem, as que falam de coisas que não
passam, as que trazem um eco de vozes
que voltam a soar aos meus ouvidos, como
se estivessem comigo. E volto a fechá-la,
para não perder o que nunca tive.
Nuno Júdice