Assim como o viajante só tem uma visão completa dos caminhos que seguiu, com seus rodeios e sinuosidades, quando chega ao topo da colina, apenas no fim de um período de nossa existência, e às vezes da vida inteira, reconhecemos a verdadeira conexão entre nossas ações, conquistas e obras, sua exata consistência, sua concatenação e seu valor. Com efeito, enquanto estamos absortos em nossa atividade, trabalhamos somente de acordo com as propriedades fixas de nosso caráter, sob a influência dos motivos e dentro dos limites de nossas faculdades, isto é, por uma necessidade absoluta, visto que não fazemos, em um dado momento, senão o que naquele momento nos parece correto e conveniente. Somente o porvir nos permite vislumbrar o resultado; e apenas quando lançamos um olhar retrospectivo ao todo do curso da vida que nos é revelado o como e o porquê desta.
Arthur Schopenhauer, Aforismos para a sabedoria de vida