sim. o tempo é masculino. hora veloz a metralhar nos telhados. na mulher a contagem é outra. uma trégua. chuva miúda em pele de alabastro. ela sabe que os amores de verão são uma existência míope. espera. sabe que um dia também ela sentirá o ranger do arado nas arestas do corpo. ronda. tempestade que se esconde atrás das árvores. dá espaço. enxuga o desejo em panos de velas extraviadas. o tempo do homem habita num cego furacão. queima intervalos. evita os atalhos. ela. a mulher. pelo contrário. adora trilhos. caminhos quase. o sereno que chega da orla. cita o poeta: a ternura é húmida. e diz mais. a mulher. se a ternura não fosse húmida os rios não eram rios. as lágrimas dos amantes já não corriam para a foz. as bocas oxidavam.
alberto serra