sábado, 24 de setembro de 2022

Dor

 



Quisera esta tarde divina de outubro 

passear pela beira longínqua do mar; 

Que a areia de ouro, e as águas verdes, 

e os céus puros me vissem passar. 


Ser alta, soberba, perfeita, quisera, 

como uma romana, para concordar 

com as grandes ondas, e as rocas mortas 

e as largas praias que apertem o mar. 


Com o passo lento, e os olhos frios 

e a boca muda, deixar-me levar; 

ver como se rompem as ondas azuis, 

contra os granitos e não pestanejar; 

ver como as aves de rapina se comem 

os peixes pequenos e não despertar; 


pensar que puderam as frágeis barcas 

Afundar-se nas águas e não suspirar; 

Ver que se adianta a garganta ao ar, 

O homem mais belo não desejar amar… 


Perder o olhar, distraidamente, 

perde-lo e que nunca o volte a encontrar: 

E figura erguida entre céu e praia 

sentir-me o esquecimento perene do mar. 


Afonsina Storni